sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Dream for mother




Fazem algumas luas que me encontro carregado de saudade,
as mãos e pés calejados me trazem uma icônica lembrança,
do consolo nos braços maternos das tardes cinzentas de outono.
Ao trazer na memória essa lembrança, reavivam alguns dos sonhos da minha infância, mesmo quando a dor calcina. 
Mas, no coração repleto de fé e esperança, anseio pelo prelúdio de um pôr do sol celeste, 
restando-me um sopro de vida e as lições legadas por minha amada mãe.

E, se a saudade demarca seu território em cada primavera,
os sonhos que tenho são a marca indelével de minhas lembranças,
sabendo que a presença eterna de minha mãe, se fortalece nos braços de minha família.


Uma música para acompanhar a leitura do poema acima, recomendo Richard Clayderman no piano com "I have a dream": http://www.youtube.com/watch?v=mVXWMmiTTE0


(Por Marcelo Eufrásio, pelo aniversário da páscoa de sua mãezinha)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Política Pública no território da 'sulanca': os desafios da escolarização e qualificação diante da informalidade no trabalho



Fruto das pesquisas e produções acadêmicas do Grupo de Pesquisa "Trabalho, Políticas Públicas e Desenvolvimento" - TDEPP, liderado pelo Prof. Dr. Roberto Véras de Oliveira (Professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPB), grupo este vinculado ao CNPq e ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais - PPGCS da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, o qual faço parte, venho divulgar a publicação de mais um dos estudos do grupo em Sociologia do Trabalho. O estudo a nível de doutorado situa a política de escolarização e qualificação profissional (Projovem) diante da problemática da reconfiguração do mundo do trabalho, particularmente em torno da informalidade no trabalho numa região marcada pelas formas precárias e informais de trabalho. Os trabalhos sobre o Pólo de Confecções do Agreste Pernambucano foram produzidos pelos pesquisadores vinculados ao TDEPP, a partir de um projeto casadinho entre a UFCG e UNICAMP sob a tutela dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais das duas Universidades, com o objetivo de entender as realizações políticas, sociais, econômicas e culturais do mundo do trabalho em regiões como o Pólo de Confecções do Agreste de Pernambuco. 

Para maiores informações: https://sites.google.com/site/gptrabalhoufcg/

A arte (capa) acima ilustra o resultado deste estudo, publicado em livro com o título "Política Pública no território da 'sulanca': os desafios da escolarização e qualificação diante da informalidade no trabalho" (2014). Em breve estará à venda.

Sinopse: 

Desde a década de 1950, a região central do Agreste Pernambucano, no Nordeste do Brasil, se desenvolve a partir do setor de confecções. Esta região, produtiva e comercial, foi estabelecida em torno da produção da Sulanca, sendo sua trajetória marcada, até os dias atuais, pelo caráter informal e precário do trabalho. A região encontra-se potencialmente voltada a produção e comercialização de confecções, utilizando-se de mão de obra em grande medida jovem, com pouca escolaridade e qualificação, que se encontra na informalidade. As condições de trabalho presentes no Pólo de Confecções tem suscitado o debate em torno da inserção dos jovens no mercado de trabalho, sobretudo da atuação das políticas de qualificação como uma medida para equacionar os problemas advindos das conseqüências da precarização das relações de trabalho. No caso da pesquisa apresentada nesta obra se procurou estudar uma das mais importantes ações da História das Políticas Educacionais do Brasil, trata-se do Projovem. A obra possui um acalorado debate teórico sobre o tema na perspectiva da Sociologia do Trabalho, amparado por um apanhado histórico sobre as políticas de escolarização no Brasil do início do século XX até a era petista, além de um estudo sobre a reprodução do caráter informal do trabalho, em nível nacional e regional, afinal o trabalho informal não é tema novo no cenário brasileiro e mundial, uma vez que está inserido dentro das formas de acumulação flexível (HARVEY, 1992), que reproduz as formas precárias de inserção dos indivíduos no mundo do trabalho. Por se tratar de uma região atípica, pela forma como os indivíduos ajudaram a construí-la e a desenvolvê-la, a partir da confecção e comercialização da Sulanca, as políticas públicas de educação acabaram delineando contornos distintos.

sábado, 2 de agosto de 2014

Minha doce Peppa


O desenho que minha filhinha mais tem assistido, contemplando incansavelmente cada cena chama-se Peppa Pig. Uma série infantil de produção inglesa, que retrata o cotidiano de uma família de porquinhos. O desenho é bastante lúdico, singelo e educativo. Os episódios narram a família, a partir dos personagens, Papai Pig, a Mamãe Pig, a Vovó e o Vovô Pig, além dos filhos Peppa e George.

Com imagens simplórias, sem muitos efeitos ou produção, o desenho é uma aula de didática familiar, apresenta a Família da Peppa sempre muito unida, aberta ao diálogo,  sob a proteção e atenção dos pais, amorosamente assistentes dos filhos. As decisões e atividades programadas pela família, sempre tem participação de todos. Há solidariedade entre os membros da célula familiar, não há espaços para individualismos. Um modelo tão ameaçado pelo paradigma "pós-moderno" (sociedade de risco) que prega a volatilidade das relações, a liquidez nos sentimentos e nas vivencias entre os familiares.

Na contramão da História, influenciada pela cultura da humanização, aparece Peppa. Com ela e sua família, o paradigma da moral familiar (domestica) ressurge para nossas crianças repleta de encantamentos e lucidez, nas cenas contemplam-se as vivências das coisas simples da vida em família. Nada de consumo exacerbado  ou desapego dos laços afetivos e de desrespeito aos pais, pelo contrário, o testemunho dos genitores pela valorização da vivência autêntica da infância dos filhos é sacralizado. 

Exaltando a família como templo sacrossanto de Deus, o (Santo) Papa João Paulo II, afirmou "A família é a base da sociedade e o lugar onde pessoas aprendem pela primeira vez os valores que lhes guiam durante toda vida".

Para os pais que investem pesado na ideia de presentear materialmente tudo aos filhos em detrimento da presença diuturna, cujo pacote (protetivos dos pais) devem vir amor, diálogo, atenção e cumplicidade, vale a pena compartilhar com os filhos também deste momento de pertença, ao assistir um pouco da família Pig. Afinal, quando os pais não se fazem presentes na vida dos pequeninos, o mundo irá substituí-los em situações cada vez mais complexas e cruéis. 

Neste caso, remediavelmente Peppa aparece como ícone infantil da resistência contra as agruras dos tempos (pós) modernos. 


segunda-feira, 16 de junho de 2014

"A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam" - um jogo para hermenêutica da vida






Sublevando a condição humana, nada mais pontual do que um toque preciso com o manuseio da hermenêutica da vida, a partir do exercício de compreensão e interpretação do mundo pelas lentes da contextualização "A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam".

O 'ser' que somos é a linguagem, diria o hermeneuta alemão Martin Heidegger.  Contudo, para que os indivíduos se tornem humanos em sua essência é preciso concebê-los como metafísicos, como produtos e agentes do pensar. Mais também do agir, como defendeu Kant. O agir humano, pressupõe uma conduta marcada pela sua vulnerabilidade, mas também pela coragem de buscar a felicidade a partir da condução de sua trajetória, que não pode estar dissociada da compreensão e interpretação do mundo. Não se trata na modernidade fenomênica heideggeriana de considerar apenas a máxima medievalista "agere sequitur esse" (o agir segue o ser), mas incorporar junto com a hermenêutica filosófica o próprio sentido do homem, uma vez que cabe a ele, enquanto ser privilegiado ser compreendido na totalidade. Heidegger denominou essa figura simbólica de ser-aí (Da-sein), isto é, aquilo que representa o ser humano posto na realidade cotidiana, aberto às interpretações, indissociável do (no) mundo.

Este homem heideggeriano está envolto de suas lutas, marcado pelos exercícios de (re)significações e interpretações sobre a vida.

Metaforicamente cada pessoa humana hospeda dentro de si uma 'águia'. Acaba sentido-se portador de um projeto infinito. Deseja quebrar paradigmas, inclusive os limites de sua condição existencial. Existem diferentes movimentos na conjuntura política, econômica, educacional e na realidade enfrentada por cada um que pretendem reduzir os indivíduos a simples 'galinhas', figuras frágeis, presas nos limites do terreiro. Como é possível aos indivíduos dar asas a 'águia' (tornando-se além de leitor, também co-autor), alcançar as alturas, inserir a figura simbólica da 'galinha' na condição de heroína em sua própria trajetória senão a partir do exercício de (re)significação de sua condição (humana)?

Para quem anda procurando interpretar os fenômenos jurídicos e as conjunturas sobre a realidade política, social etc., particularmente os que se encontram desmotivados ou presos por amarras, por vezes, da incompreensão/intolerância nos limites da (in)segurança jurídica, recomendável o olhar simbólico e intimista do teólogo e filósofo Leonardo Boff em seu livro "BOFF, Leonardo. A águia e a galinha: Uma metáfora da condição humana. 12ª Ed. Vozes. Petrópolis, RJ. 1997".

sábado, 7 de junho de 2014

A Sabedoria de São Francisco de Assis - diácono dos pobres




Minhas modestas impressões sobre a sabedoria teológica e antropológica de São Francisco de Assis.


A sabedoria de São Francisco de Assis (1182-1226), diácono da Igreja, que viveu em tempos medievais é sacramentalmente representada pela dimensão do serviço. Vivencia o serviço a partir de sua entrega pelo amor e caridade aos pobres. Enquanto modelo de servidor (diaconia, do grego διάκονος "ministro" ou "servo"), manifesta sua missão mediante um grande desafio, a edificação da comunidade por meio dos pobres, no testemunho de doação e partilha pelos pobres, por meio da caridade. Além do constante exercício da dimensão espiritual, através do culto e da reflexão evangélica, no seguimento do Cristo e na atividade edificante de testemunhar o amor de Deus.

Sua vocação se confirma ao escutar e atender o clamor do Altíssimo: "Francisco, vai e repara a minha casa que, como vês, está em ruínas". Doravante sua missão evangelizadora de humanizar a comunidade eclesial e o mundo feudal,  Francisco enquanto diácono, exerce seu ministério do serviço não com a prática da comunidade (franciscana) em direção aos pobres, mas uma práxis a partir dos pobres, com a vivência e amor com os pobres, com o objetivo de transformar a comunidade e a sociedade tomando como modelo o projeto do Reino de Deus. Anuncia Tiago em sua Carta Apostólica: "Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do Reino que Ele prometeu aos que o amam?" (Tg 2:5).

O jovem de Assis rememora pelo seu testemunho o amor do Cristo servidor, em um contexto histórico marcado por atribulações e pelas intempéries de um período hostil e banalizado pela usura religiosa e política, quando o espírito franciscano ecoá com o chamado cristocêntrico para o exercício da metáfora do serviço,  simbolizado pelo ato de lavar os pés dos discípulos: "Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também" (Jo 13:15).

Sua missão enaltece a chama dos homens de bom coração, aqueles que perante o mundo são fracos e marginalizados, mas podem colaborar como servos no projeto salvífico de Deus, porque a dimensão franciscana revive também a missão da comunidade cristã, com aquelas pessoas que se inspiram na ética do cuidado e se entregam ao serviço dos pobres. Afinal,  também estes vivem Pentecostes: “até sobre os meus servos (doulous) e minhas servas (doulas) derramarei do meu Espírito naquelas dias, e profetizarão” (At 2.18). 

Numa dimensão antropológica, São Francisco de Assis encarna o exercício da razão (logos), que se instaura "absolutamente" e da paixão (pathos) que comove e coloca os homens de joelhos, pressupõe iconicamente que o homem subverte a alma e se inspira nos bons exemplos de uma vida dedicada às pequenas coisas do mundo, porém reaprendendo o sentido da própria vida nos anos que ainda lhe resta. Sabendo que razão e emoção devem andar juntas em cada instante da efemeridade. 

E das pequenas às grandes coisas que experimenta em cada instante da vida, seu jeito servidor e contemplativo inspira o gênero humano a aprender com os sinais transcendentes neste mundo, desde a mera contemplação de uma aranha que desce no produto de seu longo trabalho, ao esplendoroso encantamento do Sol que abraça o dia repleto de vidas.


Por Marcelo Eufrásio.