Hoje a tarde ao ver pela transmissão da rádio Vaticano a missa da
Ceia do Senhor e do lava-pés celebrada pelo Papa Francisco, recordei
dois temas que nutrem as preocupações e o imaginário das gerações
atuais, bem como as esperanças dos que acendem a chama da fé.
O
primeiro tema marca a reflexão que este tempo propõe com toda sua
riqueza de simbolismos e espiritualidades, sobretudo aos que nutrem a
vivência cristã e ecumênica, tempo favorável do tempo pascal. No segundo
tema, o incisivo e forte apelo para construção de uma sociedade plural,
sedimentada pelo discurso da tolerância, alteridade e isonomia. Apesar
da sombra de uma nova geopolítica global, marcada pela “era do terror” e
pelos fundamentalismos e imperialismos, que acentuam as migrações
endêmicas pelas vias da violência baseada na desterritorialização e
pelas limpezas étnicas e sociais espalhadas pelo mundo.
Hoje o
Papa Francisco na encenação do lava-pés da quinta-feira santa trouxe
para reflexão estes dois temas de grande revelo para os tempos
hodiernos, a partir da memória da participação incisiva e fundamental da
mulher no mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo, para
elucubrar sua atuação também nos desafios das sociedades atuais e também
recuperar o debate em torno da problemática do terrorismo (na última
terça–feira o atentado a Bruxelas), as migrações “ilegais” e os
refugiados pelo mundo.
Uma das mudanças promovidas pelo Papa
Francisco, em nível litúrgico este ano foi à decisão anunciada de
modificar o rito do Missal Romano relativo ao lava-pés, estabelecendo
que a participação neste ritual litúrgico não seja limitada só aos
homens e jovens, mas também estejam presentes as mulheres. Depois sua
escolha, pelos doze que participariam do gesto de serviço na celebração
da missa do lava-pés hoje em Roma. Sua celebração hoje a tarde foi
realizada no Centro de Requerentes de Asilo de “Castelnuovo di Porto”,
na periferia de Roma, uma entidade filantrópica mantida pela Igreja, que
abriga 892 migrantes. O lava-pés se deu com a participação de onze
migrantes e uma colaboradora italiana católica da cooperativa. Foram
quatro jovens nigerianos católicos, três mulheres eritréias cristãs
coptas, três muçulmanos (um sírio, um paquistanês e um malinês) e um
jovem indiano de religião hindu.
Tocado pela cena evangélica e
pelo contexto da mensagem atualizada pelo Papa Francisco, sobretudo em
tempos de intolerância e indolência generalizadas, a partir desta cena
litúrgica é oportuno recuperar duas lições que estão muito presentes
para nossas inquietações e vivências diárias. Jesus que deixou o legado
da diaconia para os seus discípulos, aludindo ao serviço caridoso e
despretensioso: “Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim
façais também vós” (Jo 13, 15) e o resgate da filosofia da alteridade.
Lévinas no seu livro publicado em 1974 (edição de 2006, p. 252-253)
intitulado “Outramente que Ser: o argumento” (original: Autrement qu'
etre ou au-dela de l' essence), reitera a missão de hoje, sendo ela um
remédio contra os males do mundo: “a filosofia chamada a pensar a
ambivalência, a pensá-la em muitos tempos, mesmo si chamada ao
pensamento da justiça, sincroniza ainda o Dito a dia-cronia do um e do
outro e permanece sendo a servidora do dizer que significa a diferença
do um e do outro como do um para o outro, como não-indiferença pelo
outro – a filosofia: sabedoria do amor ao serviço do amor”.
Respeito e
dignidade humana nascem pela caridade, leia-se, amor ao próximo.
https://www.facebook.com/radiovaticanobrasil/videos/vb.204528906321831/925698280871553/?type=2&theater (Vídeo sobre a celebração com o Papa Francisco da missa da Ceia do Senhor e do lava-pés)
https://www.facebook.com/radiovaticanobrasil/videos/vb.204528906321831/925698280871553/?type=2&theater (Vídeo sobre a celebração com o Papa Francisco da missa da Ceia do Senhor e do lava-pés)