Em um destes dias setembrinos, fazendo compras com minha esposa num dos supermercados
da cidade, ao tempo que procurava coisas interessantes para fazer enquanto
as pernas, a grana e o carrinho se empanturravam de peso e do consumismo
do mês, horas que nos testam no bolso e na paciência, passados alguns minutos, eis que de repente naquele labirinto “eterno” de prateleiras e
seções encontro um sujeitinho franzino e alto, vestido em trajes aos
moldes germânicos em pleno clima serrano campinense. Até procurei fingir não
perceber de início, mas se buscava ricota lá estava ele, se corria atrás
das frutas o "germânico" se fazia presente, como uma tentação. Depois de
muita recusa e insistência, vi que ele era a figura icônica de um
verdadeiro sósia de JÜRGEN HABERMAS, depois disso, comecei a persegui-lo
seção por seção com uma tietagem frenética, aparecia coragem e ao mesmo
tempo timidez, queria de todas as formas registrar uma foto com aquele que seria um dos grandes ícones da filosofia
e da teoria social do século XX. Imaginei de início que tirar
uma foto com ele seria como ir até Frankfurt ou como presenciar o embate
histórico entre razão e fé, quando do grande encontro entre Habermas e
seu conterrâneo, o Cardeal Joseph Ratzinger (Papa emérito Bento XVI) num
debate filosófico ocorrido na década de 1990.
Nestes tempos adventícios para o processo eleitoral com candidatos que se rasgavam, se acusavam e se conspiravam
movendo mundos e fundos, acabei
recuperando um pouco das memórias da teoria social desenvolvida a
partir do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt (1924), também
conhecido como Escola de Frankfurt, que se constitui como sendo uma
estrutura acadêmica de pensamento filosófico-sociológica organizada sob
uma matriz de conhecimento voltada às questões atinentes a modernidade,
principalmente dentro do contexto do mundo capitalista que insurge no
séc. XX no período entre guerras e no cenário burguês industrial.
Neste
caso, Habermas, que jurei ter encontro num supermercado em Campina
Grande, é um destes filósofos fundamentais ainda vivos que ajudam a
entender o espaço público e a participação política dos indivíduos,
principalmente no processo eleitoral de uma sociedade revestida pelo
Estado Democrático de Direito. Para tanto, segue abaixo dois trechos de
duas de suas importantes obras “Conhecimento e interesse - Escola de
Frankurf (1975)” e "Para a reconstrução do materialismo histórico
(1983)" para registrar a grande importância dos
sujeitos políticos na luta (dialeticamente) pelo agir comunicativo como
recurso para desenvolver as ações intersubjetivas presentes no diálogo e
no espaço público, principalmente enquanto espaço de reconhecimento do
direito e da moral:
"É lógico que o processo de comunicação só
pode realizar-se numa sociedade emancipada, que propicie as condições
para que seus membros atinjam a maturidade, criando possibilidades para a
existência de um modelo de identidade do Ego formado na reciprocidade e
na ideia de um verdadeiro consenso" (HABERMAS, 1975, p. 300).
"(...)
moral e direito definem o núcleo da interação. Revela-se aqui, por
conseguinte, a identidade das estruturas de consciência, encarnadas, por
um lado, nas instituições do direito e da moral e, por outro, expressas
nos juízos morais e nas ações dos indivíduos" (HABERMAS, 1983, p. 15).
Coisas
imprescindíveis para pensar acerca do destino do gênero humano na vida pública durante os processos eleitorais e suas consequências conjunturais, mesmo que tenham nascido entre os labirintos
das seções de um supermercado!