sexta-feira, 15 de julho de 2011

Entre a PAIXÃO e a RAZÃO - Quem comanda os destinos do homem?


(Antonio Vivaldi - "Summer" from four seasons)




O que há na vida senão emoção (paixão) e razão? A Sociologia já suscitou um debate questionador acerca deste aparente conflito, na sua formulação dicotômica "paixão-razão", que teria provocado até o pensamento sociológico do alemão Max Weber (1864-1920), que já acreditava que "é por meio da paixão ou da fé que o homem se relaciona com os valores" (SAINT-PIERRE, H. Max Weber: entre a paixão e a razão. 2004, p. 9). Assim, a relação do homem com os valores demarca o curso da análise weberiana. Tanto nos trabalhos metodológicos de Weber como nos seus escritos políticos, pode-se notar a tensão permanente entre a razão e a paixão ou fé, o que dificulta ainda mais a análise da já intrincada relação entre ciência e ação no pensamento weberiano.

O que prova a importância e a decisiva complexidade das ciências sociais a partir do século XIX, e, a posição epistemológica (teoria do conhecimento) de Max Weber para entender o homem enquanto alguém que busca e alimenta o conhecimento é seu delineamento quanto a duas condições fundamentais: a erradicação dos juízos de valor do discurso científico e a exigência de verificação empírica dos enunciados científicos por meio das explicações causais. Simplificando as coisas, digamos que, o conhecimento racional é um pressuposto que nasce e (con)vive com o conhecimento passional, ou seja, a paixão (fé) é constituída de um outro elemento valorativo-cultural (a razão), que a partir da realidade é recortada para destacar o objeto de análise (racional) e acaba representando ao longo da vida um "significado cultural" (SAINT-PIERRE, 2004, p. 20).

Neste caso, nossas escolhas não são científicas (juízo de valor = pluralidade de valores e escolhas humanas), mas a análise é produto da racionalidade, que origina os pressupostos do conhecimento científico, nisto, dizemos que razão-paixão são elementos intrínsecos na lógica weberiana. O tipo ideal weberiano, sintetiza a relação entre os limites empíricos para generalização dos resultados, os limites da validade dos próprios conceitos e a vigência dos problemas formulados pelo interesse do sujeito (que determinou esses limites em sociedade, a partir da paixão, mais também da razão), o que a cultura, a religião, o direito etc. determinam como sendo "os valores".

Para ilustrar tão intrínseca relação entre "paixão-razão" não quisemos trazer um exemplo de casal enamorado das novelas etc. (poderia parecer uma babaquice), mas trazer um exemplo musical que tem a narrativa concreta daquilo que a dança harmônica entre as paixões humanas e a racionalidade possuem.

The Four Seasons (Italian: Le quattro stagioni) é um conjunto de quatro concertos para violino de Antonio Vivaldi. Composta em 1723, As Quatro Estações é o trabalho mais conhecido de Vivaldi e está entre as peças mais populares de música barroca. A harmonia de cada concerto é variada, cada um lembra uma temporada. Por exemplo, "Winter" lembra a chuva gelada, enquanto que "Summer" (do vídeo acima) evoca uma tempestade em seu movimento final, razão pela qual o movimento é muitas vezes apelidado de "Storm".

Dos sentimentos humanos da melancolia ou alegria dos fenômenos da natureza, nasce a graciosidade de um concerto, que ora esboça os sentimentos (paixão) ora os desejos e pensamentos racionais da humanidade diante da natureza e de seus fenômenos, por exemplo, como uma tempestade com seus altos e baixos, além dos seus conflitos interiores (por exemplo, quando nascem e se desenvolvem: ciências da natureza X ciências do espírito - humanas). Ao ouvir The Four Seasons (com um pouco de atenção) dá para se perceber a dialética musical entre a paixão e a razão, entre os fenômenos da natureza e do espírito, entre os semblantes singelos (suaves) e os olhares severos (e até de agressivos) dos músicos, lutas entre paixão-razão, que revelam ao longo do concerto a harmonia perfeita da peça de Vivaldi!


Afinal, os pêndulos (paixão-razão) da vida humana vivem desafiando os dias com a enaltação dos sentidos, pois somos todos homens e mulheres buscando o sentido dos nossos destinos na escadaria do mundo.

Boa música a todos!

(M.Eµfrasıø)