Terra sem dono Povo no pano Gente de fome Sistema consome Dono em luta Atrás da disputa Com forte, mordaz Sem sorte, voraz É o povo na terra Que vive na serra Na busca do chão Pra fugir do sertão Pois a fome consome Este povo sem nome (...)
Protege o filho diante da queda A mãe fugindo da vida e da pedra Ela sabe viver No viver e no sofrer Na morte e na vida Na vida partida As cercas massacram Os nobres arrasam Este povo de fome Que a terra consome.
Marcelo Eufrásio (Fragmento do poema "La faim consomme des terres" ou "A fome consome a terra")
Dentre as seis suítes para violoncelo solo compostas por Johann Sebastian Bach entre o período de 1717-1723, Suite n° 1 - Preludio, é uma das mais encantadoras. Bach (1685-1750) compositor, cravista, regente, professor, violinista e violista, formou-se pelas bases do Sacro Império Romano-Germânico, atual Alemanha, praticou quase todos os gêneros musicais de sua época, exceto a ópera. Porém, sua obra prima e maior influência está nas formas populares do período Barroco.
As suítes de Bach foram transcritas para numerosos instrumentos, entre eles, violino, viola, contrabaixo, piano, saxofone, clarinete, trompete, tuba entre outros, já na Suite n° 1, Prelúdio é um gênero musical introdutório de outra musicalidade maior, em grande medida uma ópera ou ballet. No contexto medieval, os músicos denominados de alaudistas tocavam como forma de aquecer, preparando a tonalidade, enquanto na escola bachiana, o Prelúdio é utilizado também como introdução de uma fuga ou tocata.
Para encerrar uma semana de trabalho, após a mesura nas correções de projetos, tcc e provas, nada mais apropriado do que atentar aos encantos do Prelúdio, com toda sua leveza e floreio, que agraciam com um ritmo que resgata da memória as lembranças acadêmicas e estudantis dos tantos. Em escalas de sonhos, conteúdos, sorrisos e ebulição de expectativas marcados nos olhos atentos dos estudantes revelam-se algumas centenas de pequenos projetos desenhados nos semblantes entre salas, corredores e bibliotecas.
Por vezes, estão eles, ora carregados por incertezas por vezes em perseverança, mais também sedimentados com a força, nutridos pela esperança ao moverem-se nestes últimos meses, como numa corrida pela incansável maratona da vida, projetando seus sonhos até conquistar mais um degrau em busca de uma vitória.
E a prudência, a persistência e a força são os ritmos de um solo vespertino. Porque entre a Suite n° 1 de Bach e o desfecho de um semestre letivo, há bem mais harmonia do que imaginamos no tempo.
Cada
vida que nasce é sinal indelével do amor e da criação divina, desde uma insípida
bactéria que completa e harmoniza todo ecossistema até a natureza humana que se
projeta para manifestar a expressão da equidade entre o sensível e o inteligível,
que nasce, brota e dá sentidos à natureza.
A
pequena semente que brotou no nosso jardim, e que minha pequena menina rega
freqüentemente, desde que plantamos juntos faz alguns meses, ganhou um carinho
especial neste Domingo (Pascal), a plantinha com suas pequenas folhas
intensamente verdes recebeu do sol o brilho intenso para agraciar-nos com sua
beleza, nos presenteando com sua flor intensamente amarela. Justamente para
surpresa de quem adquire a semente sem saber a cor que serão as flores, o
amarelo que significa luz, calor, otimismo e alegria, ao mesmo tempo, simboliza
o sol, a prosperidade e a felicidade.
Nada
mais esplendoroso como dádiva divina do que a vida, simbolizada no desabrochar
do botão de uma flor.
A
flor manifesta a graciosidade e beleza da vida que nasce e se transforma numa
planta sem igual. Às vezes o sol a calcina, em outras a afaga. Nestes tempos
raramente a chuva a castigava
ou freqüentemente a menininha no oficio de jardineira faz o trabalho de regá-la
na esperança pelo desabrochamento, cuidando, cativando e sublevando suas raízes
na espera por sua espontânea beleza. Não raro à noite a envolve mansamente.
Nunca a ouvi queixar-se por causa do calor ou do frio. Jamais cobra alguma
coisa por sua majestática beleza. Nem o agradecimento. Ela se dá simplesmente.
Gratuitamente. Não é menos majestosa quando o sol a acaricia de que quando o
vento a açoita. Não cuida se a olha. Nem se incomoda se a galga. Ela é como
Deus: tudo suporta; tudo sofre; tudo acolhe. Deus se comporta como ela. Por
isso a plantinha com sua flor (amarela) é um sacramento de Deus: revela,
recorda, aponta, reenvia.
O amor pelo outro e
por aquilo que se faz gera fé na vida em plenitude. Feliz Páscoa!
Existem
músicas que se eternizam pelo seu movimento, pelo teor simbólico e pelo
encantamento melódico que possuem, penetram no mais intimo da alma, fazendo
transcender nos tempos, simplesmente por sua profundidade tão íntima,
transmitem vibrações que entoam notas aos sentimentos e a razão.
Porque
simplesmente uma composição clássico é elixir para as agruras da vida!
"Aria sulla quarta corda" ou Ária da quarta corda é uma adaptação para violino e piano do segundo movimento da peça original que faz parte da Suíte nº 3 para orquestra, em Ré Maior, de Johann Sebastian Bach, BWV 1068, escrita para o Príncipe Leopoldo, entre 1717 e 1723.
A peça "Aria Sulla corda" em especial, representa iconicamente uma melodia que
guardo nas minhas lembranças desde a tenra idade. Memória dos domingos, quando o cheiro do café preparado por minha amada mãe se confundia com a radiofania dos "clássicos eternos" ou das fitas k7 com as peças de Bach e Mozart naquele clima de profundo engajamento em um momento de paz.
Nesta semana de incisiva
para oração, silêncio e contrição, as peças sacras de Bach nos levam a
intima contemplação dos passos da via crucis e ao encontro do crucificado.