sábado, 29 de outubro de 2016

SONETO DAS MARIAS QUIXOTIANAS



Neste dia 29 de outubro em comemoração ao Dia Nacional do Livro, uma pequena homenagem a leitura infantil.


SONETO DAS MARIAS QUIXOTIANAS


Ah! Se toda imaginação fosse lúdica,
toda viagem transitasse nas sendas do imaginário,
todo homem feito tivesse um quaternário
e sua vida pudesse realmente pulsar.


Suas escolhas não fossem moldadas pela incompreensão
seus sonhos mais íntimos já abraçassem a realidade,
seus acordes um ritual pueril da antiefemeridade
e as melodias para a vida uma inculturação. 
 

Para minha filha deposito no altar de sua vida
cada momento melódico e feliz da gestação
fugindo da insípida rotina da erupção. 
 

E, que toda criança em tempos efervescentes
descubra o prazer de uma leitura
vicejante como Quixote revestido de sua armadura.

(Marcelo Eufrásio)

domingo, 9 de outubro de 2016

Habermas no supermercado?!


 Em um destes dias setembrinos, fazendo compras com minha esposa num dos supermercados da cidade, ao tempo que procurava coisas interessantes para fazer enquanto as pernas, a grana e o carrinho se empanturravam de peso e do consumismo do mês, horas que nos testam no bolso e na paciência, passados alguns minutos, eis que de repente naquele labirinto “eterno” de prateleiras e seções encontro um sujeitinho franzino e alto, vestido em trajes aos moldes germânicos em pleno clima serrano campinense. Até procurei fingir não perceber de início, mas se buscava ricota lá estava ele, se corria atrás das frutas o "germânico" se fazia presente, como uma tentação. Depois de muita recusa e insistência, vi que ele era a figura icônica de um verdadeiro sósia de JÜRGEN HABERMAS, depois disso, comecei a persegui-lo seção por seção com uma tietagem frenética, aparecia coragem e ao mesmo tempo timidez, queria de todas as formas registrar uma foto com aquele que seria um dos grandes ícones da filosofia e da teoria social do século XX. Imaginei de início que tirar uma foto com ele seria como ir até Frankfurt ou como presenciar o embate histórico entre razão e fé, quando do grande encontro entre Habermas e seu conterrâneo, o Cardeal Joseph Ratzinger (Papa emérito Bento XVI) num debate filosófico ocorrido na década de 1990.

Nestes tempos adventícios para o processo eleitoral com candidatos que se rasgavam, se acusavam e se conspiravam movendo mundos e fundos, acabei recuperando um pouco das memórias da teoria social desenvolvida a partir do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt (1924), também conhecido como Escola de Frankfurt, que se constitui como sendo uma estrutura acadêmica de pensamento filosófico-sociológica organizada sob uma matriz de conhecimento voltada às questões atinentes a modernidade, principalmente dentro do contexto do mundo capitalista que insurge no séc. XX no período entre guerras e no cenário burguês industrial.

Neste caso, Habermas, que jurei ter encontro num supermercado em Campina Grande, é um destes filósofos fundamentais ainda vivos que ajudam a entender o espaço público e a participação política dos indivíduos, principalmente no processo eleitoral de uma sociedade revestida pelo Estado Democrático de Direito. Para tanto, segue abaixo dois trechos de duas de suas importantes obras “Conhecimento e interesse - Escola de Frankurf (1975)” e "Para a reconstrução do materialismo histórico (1983)" para registrar a grande importância dos sujeitos políticos na luta (dialeticamente) pelo agir comunicativo como recurso para desenvolver as ações intersubjetivas presentes no diálogo e no espaço público, principalmente enquanto espaço de reconhecimento do direito e da moral:

"É lógico que o processo de comunicação só pode realizar-se numa sociedade emancipada, que propicie as condições para que seus membros atinjam a maturidade, criando possibilidades para a existência de um modelo de identidade do Ego formado na reciprocidade e na ideia de um verdadeiro consenso" (HABERMAS, 1975, p. 300).

"(...) moral e direito definem o núcleo da interação. Revela-se aqui, por conseguinte, a identidade das estruturas de consciência, encarnadas, por um lado, nas instituições do direito e da moral e, por outro, expressas nos juízos morais e nas ações dos indivíduos" (HABERMAS, 1983, p. 15).

Coisas imprescindíveis para pensar acerca do destino do gênero humano na vida pública durante os processos eleitorais e suas consequências conjunturais, mesmo que tenham nascido entre os labirintos das seções de um supermercado!