terça-feira, 4 de outubro de 2022

Francisco, o arauto da diaconia

 A sabedoria de São Francisco de Assis (1182-1226) é sacramentalmente representada pela dimensão do serviço (dianonia). Vivencia o serviço com sua entrega pelo amor e caridade aos pobres. Enquanto modelo de servidor, manifesta sua missão mediante um grande desafio, a edificação da comunidade por meio e graça da santidade, testemunho e doação aos pobres. Além do constante exercício da dimensão espiritual, através do culto e da reflexão evangélica, no seguimento do Cristo e na atividade edificante de testemunhar o amor de Deus.


Sua vocação se confirma ao escutar e atender o apelo do Altíssimo: “Francisco, vai e repara a minha casa que, como vês, está em ruínas”. Doravante sua missão evangelizadora de humanizar a comunidade eclesial e o mundo feudal, Francisco exerce seu ministério do serviço não com a prática da comunidade (franciscana) em direção aos pobres, mas a práxis a partir dos pobres, com a vivência e amor para com os pobres, com o objetivo de transformar a comunidade e a sociedade tomando como modelo o projeto do Reino de Deus, conforme anuncia Tiago em sua carta apostólica: "Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do Reino que Ele prometeu aos que o amam?” (Tg 2,5).

O jovem de Assis rememora pelo seu testemunho o amor de Cristo servidor, em um contexto histórico marcado por atribulações e pelas intempéries de um período hostil e banalizado pelo individualismo. Nele o Espírito Santo ecoa com o chamado cristocêntrico para o exercício do serviço, prefigurado pela rica metáfora do gesto do lava pés dos discípulos: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13,15).


Sua missão enaltece a chama dos homens de bom coração, aqueles que perante o mundo são fracos e marginalizados, mas podem colaborar como servos no projeto salvífico de Deus, porque a dimensão franciscana revive também a missão da comunidade cristã, com aquelas pessoas que se inspiram na ética do cuidado e se entregam ao serviço dos pobres. Afinal, também estes vivem Pentecostes: “até sobre os meus servos (doulous) e minhas servas (doulas) derramarei do meu Espírito naquelas dias, e profetizarão” (At 2,18).

São Francisco de Assis, arauto da paz e do serviço, encarna a solidez da razão (logos), que se instaura para equilibrar a paixão (pathos) humana, comove e coloca os homens de joelhos para contemplar a perfeição da criação de Deus. Ele representa iconicamente o homem consciente e virtuoso, subvertendo sua alma, para inspirar os bons exemplos de uma vida dedicada às pequenas coisas do mundo, fazendo-nos reaprender o sentido da própria vida nos anos que ainda nos resta diante deste mundo atribulado e poluído. E das pequenas às grandes coisas que experimentamos em cada instante da vida, Francisco de Assis com seu espírito de obediência, pobreza e castidade, se faz mediador das criaturas (criações de Deus) ao apre(e)nder com os sinais transcendentes que tudo aquilo que é obra divina representa a manifestação da paz, desde a mera contemplação de uma aranha que desce no produto de seu longo trabalho, ao esplendoroso encantamento do Sol que abraça o dia repleto de vidas.