O DIA EM QUE TODAS AS MÃES SE FOREM
No dia em que todas as mães se forem será uma tragédia sem
precedentes, mais ainda para o “comércio” que vive como um agente
parasitário habitando nos primeiros dias do mês de maio, fazendo-nos crer que
este mês é exclusivamente o “mês” das mães (e das noivas). Como se
pudéssemos seduzir o amor maternal “comprando-o” com presentes de tecido
ou plástico.
No dia em que todas as mães se forem os dias serão
abandonados e as noites fustigadas, as vidas ameaçadas e os filhos sem vida,
pois se a vida é nutrida pelo leite e amor materno.
No dia em que todas as mães se forem não haverá esperanças
e nem consolo, pois o milagre da vida só nasce com as dores do parto que
anunciam a semente que nasce, dá fruto e se multiplica.
No dia em que todas as mães se forem Deus não será o mesmo,
pois sem o ventre materno suas criaturas não nascerão como milagre divino.
Pois se até ELE também precisou de uma mãe.
Mãe é como um Sol radiante que encaminha-nos todos os dias,
forte, luminoso e ardente. Por alguns instantes, imperceptivelmente
esquecemos sua presença, mas ela sempre onipresente nos pensamentos sobre
seus filhos nos acompanha em cada momento. Todos os dias, todas as horas
com o cuidado e a força que só uma ligação transcendental se permite.
Marcelo EUFRASIO. (O dia em que todas as mães se
forem)
Escrevo este
modesto “arranjo de palavras” (poema acima) para
homenagear as
mães, exatamente pelo zelo incondicional de todas
elas. A maternidade
irrompe os laços afetivos, religiosos e
transcendes da
própria existência do ser. Para o filósofo Emmanuel
Lévinas é
possível reconhecer na figura feminina uma importância
subjetiva
impar. Sua presença aparece como única possibilidade
de atingir a
subjetividade irredutível para explorar a consciência, ou
seja, a
subjetividade se constitui na abertura ao Outro.
Este Outro é o
infinito que brilha e se abre como uma porta para o
ensinamento. A
idéia de infinito consiste em estabelecer uma relação
com aquilo que
extravasa o pensamento, mesmo que este não seja
possível
mensurar. Neste caso, o infinito se apresenta na figura do
próximo que se
aproxima, ou seja, o rosto alheio. Por exemplo, a
figura
materna, a primeira e única imagem que pode consolar o bebê
após sua saída
do ventre, diante deste mundo assustador
(luminoso e
barulhento).
Lévinas
recorre ao feminino, pois só as mulheres podem expressar este
rosto na
subjetividade que carrega em si o Outro. Para tanto, utiliza o
termo“MATERNIDADE”. Logo, a maternidade representa na sua filosofia
esta substituição, em que o Eu gera em si o Outro.
termo“MATERNIDADE”. Logo, a maternidade representa na sua filosofia
esta substituição, em que o Eu gera em si o Outro.
A subjetividade
maternal, expressa o gemido das entranhas do corpo
materno, revela
essa substituição, onde o Eu é Outro. Para aquele
filósofo,essa relação maternal entre Eu e o Outro, pode ser representada
pela expressão “rakhamin” que significa misericórdia, que possui uma
filósofo,essa relação maternal entre Eu e o Outro, pode ser representada
pela expressão “rakhamin” que significa misericórdia, que possui uma
referencia a
palavra “rekhem”, que significa útero.
A misericórdia
é sentida nas entranhas da mãe, pois seu corpo
estremece e
sofre pelo Outro. Este Outro não está só perto como
dentro da mãe.
Sua proximidade é tal, que a mãe tem uma
responsabilidade
vital, do Eu com o Outro, principalmente de
morrer pelo
Outro. Como afirmou Derrida (no livro Emmanuel Lévinas:
La trace du feminin. p. 74):
“[...] cercado, sem defesas, pelo próximo,
assumo essa presença como uma ‘mãe que não pode negar a presença
assumo essa presença como uma ‘mãe que não pode negar a presença
de seu filho
em si’”.
O tema da
maternidade na filosofia de Lévinas é uma metáfora da
subjetividade do
cuidado de si pelo Outro. No entanto, não pode se
desvencilhar
daquilo que destacamos no texto “O DIA EM QUE TODAS
AS MÂES SE
FOREM!”. Quando e “se” todas as mamães se forem
deixaremos nós
de existir, pois se até “Deus” (como afirmei no poema)
não será o
mesmo? Não esquecendo que parte de nós é o ‘eu’ (mãe)
que herdou da
genitora seus sonhos, desejos, alegrias, tristezas, dores,
conforto,
proteção (...) no ventre materno. Após nascermos o cordão
umbilical não será rompido, pois a subjetivação é infinita, como o
valor das mães.
umbilical não será rompido, pois a subjetivação é infinita, como o
valor das mães.