sexta-feira, 11 de maio de 2012





O DIA EM QUE TODAS AS MÃES SE FOREM


No dia em que todas as mães se forem será uma tragédia sem precedentes, mais ainda para o “comércio” que vive como um agente parasitário habitando nos primeiros dias do mês de maio, fazendo-nos crer que este mês é exclusivamente o “mês” das mães (e das noivas). Como se pudéssemos seduzir o amor maternal “comprando-o” com presentes de tecido ou plástico.


No dia em que todas as mães se forem os dias serão abandonados e as noites fustigadas, as vidas ameaçadas e os filhos sem vida, pois se a vida é nutrida pelo leite e amor materno.


No dia em que todas as mães se forem não haverá esperanças e nem consolo, pois o milagre da vida só nasce com  as dores do parto que anunciam a semente que nasce, dá fruto e se multiplica.


No dia em que todas as mães se forem Deus não será o mesmo, pois sem o ventre materno suas criaturas não nascerão como milagre divino. Pois se até ELE também precisou de uma mãe.


Mãe é como um Sol radiante que encaminha-nos todos os dias, forte, luminoso e ardente. Por alguns instantes, imperceptivelmente esquecemos sua presença, mas ela sempre onipresente nos pensamentos sobre seus filhos nos acompanha em cada momento. Todos os dias, todas as horas com o cuidado e a força que só uma ligação transcendental se permite.


Marcelo EUFRASIO. (O dia em que todas as mães se forem) 


Escrevo este modesto “arranjo de palavras” (poema acima) para
homenagear as mães, exatamente pelo zelo incondicional de todas
elas. A maternidade irrompe os laços afetivos, religiosos e
transcendes da própria existência do ser. Para o filósofo Emmanuel
Lévinas é possível reconhecer na figura feminina uma importância
subjetiva impar. Sua presença aparece como única possibilidade
de atingir a subjetividade irredutível para explorar a consciência, ou
seja, a subjetividade se constitui na abertura ao Outro.

Este Outro é o infinito que brilha e se abre como uma porta para o
ensinamento. A idéia de infinito consiste em estabelecer uma relação
com aquilo que extravasa o pensamento, mesmo que este não seja
possível mensurar. Neste caso, o infinito se apresenta na figura do
próximo que se aproxima, ou seja, o rosto alheio. Por exemplo, a
figura materna, a primeira e única imagem que pode consolar o bebê
após sua saída do ventre, diante deste mundo assustador
(luminoso e barulhento).

Lévinas recorre ao feminino, pois só as mulheres podem expressar este
rosto na subjetividade que carrega em si o Outro. Para tanto, utiliza o 
termo“MATERNIDADE”. Logo, a maternidade representa na sua filosofia 
esta substituição, em que o Eu gera em si o Outro.

A subjetividade maternal, expressa o gemido das entranhas do corpo
materno, revela essa substituição, onde o Eu é Outro. Para aquele 
filósofo,essa relação maternal entre Eu e o Outro, pode ser representada 
pela expressão “rakhamin” que significa misericórdia, que possui uma
referencia a palavra “rekhem”, que significa útero.

A misericórdia é sentida nas entranhas da mãe, pois seu corpo
estremece e sofre pelo Outro. Este Outro não está só perto como
dentro da mãe. Sua proximidade é tal, que a mãe tem uma
responsabilidade vital, do Eu com o Outro, principalmente de
morrer pelo Outro. Como afirmou Derrida (no livro Emmanuel Lévinas:
La trace du feminin. p. 74): “[...] cercado, sem defesas, pelo próximo, 
assumo essa presença como uma ‘mãe que não pode negar a presença
de seu filho em si’”.

O tema da maternidade na filosofia de Lévinas é uma metáfora da
subjetividade do cuidado de si pelo Outro. No entanto, não pode se
desvencilhar daquilo que destacamos no texto “O DIA EM QUE TODAS
AS MÂES SE FOREM!”. Quando e “se” todas as mamães se forem
deixaremos nós de existir, pois se até “Deus” (como afirmei no poema)
não será o mesmo? Não esquecendo que parte de nós é o ‘eu’ (mãe)
que herdou da genitora seus sonhos, desejos, alegrias, tristezas, dores,
conforto, proteção (...) no ventre materno. Após nascermos o cordão 
umbilical não será rompido, pois a subjetivação é infinita, como o 
valor das mães.