sábado, 15 de agosto de 2015

Ainda há esperanças para juventude



Têm sido difundido pelo aparelho midiático e nas relações sociais (novelas, músicas, esportes, partidos políticos etc.) que o lugar da juventude é marcado pela aventura, transgressão, rebeldia, sonhos e paixões. Já faz algumas décadas que as novelas televisivas insistem neste protótipo metamorfoseado. Desde a Antiguidade, os jovens do sexo masculino se colocavam como protagonistas nestes papéis sociais “juvenis” de rituais de passagem, conforme ocorria na sociedade romana sob a égide do pater familiae. E assim, nossas instituições mais tradicionais passaram a conviver com os gritos de guerra, as gírias, as roupas transadas, estilos alternativos das tribais juvenis, tornando-os como que sociedades secretas. 
No Brasil, a segunda metade do séc. XX é marcado pelos movimentos juvenis e pelas reivindicações populares pela democracia, mas o discurso da vulnerabilidade juvenil foi gradativamente afirmado a partir da inexperiência e imaturidade, que ainda hoje por vezes é confundido exclusivamente com hipossuficiência. Ainda que muitos grupos ou personagens juvenis deem provas de suas iniciativas e desbravamentos honrosos, nossa sociedade reforça a imagem da insegurança, como sendo o jovem promotor da violência (agente passivo ou ativo), ou melhor, laboratório para as estatísticas de vitimização da violência urbana, ou sendo ele, desprovido de oportunidade para assumir uma jornada laboral, quando em diferentes situações é cobrada a experiência profissional.

Na teoria sociológica de Pierre Bourdieu (1930-2002), é possível encontrar uma analise estrutural sobre a questão da juventude. Ao ponto que perguntaram ao sociólogo francês:

“Como o sociólogo aborda o problema dos jovens? - O reflexo profissional do sociólogo é lembrar que as divisões entre as idades são arbitrárias. É o paradoxo de Pareto dizendo que não se sabe em que idade começa a velhice, como não se sabe onde começa a riqueza. De fato, a fronteira entre a juventude e a velhice é um objeto de disputas em todas as sociedades(BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983. p. 112).

Em 2013 tive oportunidade de fazer uma modesta análise na Revista Sociologia sobre a juventude no Brasil a partir da teoria de Bourdieu, naquela oportunidade destaquei os importantes acontecimentos, transformações e conquistas (Secretaria nacional da Juventude, Estatuto da Juventude, Campanha da Fraternidade, Jornada Mundial da Juventude etc.) na juventude brasileira, mostrando que o maior desafio que se avizinha continua sendo de conquistar espaços sociais autênticos, sem que, se percam os referenciais de dignidade humana. Afinal, se gradativamente foram sendo esquecidos de solidificar os instrumentos que poderiam orientá-los em caminhos saudáveis para o corpo e a alma, a chama do espírito juvenil não pode apagar-se. Ou, como afirmou certa vez Dom Hélder Câmara: “O segredo para ser e permanecer sempre jovem, mesmo quando o peso dos anos castiga o corpo, o segredo da eterna juventude da alma, é ter uma causa a dedicar a vida” (Devocionário para Juventude. São Paulo: Loyola, 2004).



Segue abaixo um trecho do texto da revista