Têm sido difundido
pelo aparelho midiático e nas relações sociais (novelas, músicas, esportes, partidos
políticos etc.) que o lugar da juventude é marcado pela aventura, transgressão,
rebeldia, sonhos e paixões. Já faz algumas décadas que as novelas televisivas
insistem neste protótipo metamorfoseado. Desde a Antiguidade, os jovens do
sexo masculino se colocavam como protagonistas nestes papéis sociais “juvenis” de
rituais de passagem, conforme ocorria na sociedade romana sob a égide do pater familiae. E assim, nossas
instituições mais tradicionais passaram a conviver com os gritos de guerra, as gírias,
as roupas transadas, estilos alternativos das tribais juvenis, tornando-os como
que sociedades secretas.
Na teoria sociológica de Pierre
Bourdieu (1930-2002), é possível encontrar uma analise estrutural sobre a questão
da juventude. Ao ponto que perguntaram ao sociólogo francês:
“Como o sociólogo aborda o
problema dos jovens? - O reflexo profissional do sociólogo é lembrar que as
divisões entre as idades são arbitrárias. É o paradoxo de Pareto dizendo que
não se sabe em que idade começa a velhice, como não se sabe onde começa a
riqueza. De fato, a fronteira entre a juventude e a velhice é um objeto de disputas em
todas as sociedades” (BOURDIEU, Pierre. Questões
de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983. p. 112).
Em 2013 tive oportunidade de fazer
uma modesta análise na Revista Sociologia sobre a juventude no Brasil a partir da
teoria de Bourdieu, naquela oportunidade destaquei os importantes
acontecimentos, transformações e conquistas (Secretaria nacional da Juventude, Estatuto da Juventude, Campanha da Fraternidade, Jornada Mundial da Juventude etc.) na juventude brasileira, mostrando que o maior
desafio que se avizinha continua sendo de conquistar espaços sociais autênticos,
sem que, se percam os referenciais de dignidade humana. Afinal, se gradativamente
foram sendo esquecidos de solidificar os instrumentos que poderiam orientá-los
em caminhos saudáveis para o corpo e a alma, a chama do espírito juvenil não
pode apagar-se. Ou, como afirmou certa vez Dom Hélder Câmara: “O segredo para ser e permanecer sempre jovem, mesmo quando o peso dos anos castiga o corpo, o segredo da eterna juventude da alma, é ter uma causa a dedicar a vida” (Devocionário para Juventude. São Paulo: Loyola, 2004).
Segue abaixo um trecho do texto da
revista