terça-feira, 30 de março de 2010

Estética filosófica: um olhar sobre o filme “Arquitetura da destruição”























Neste ultimo sábado de março, dia 27, a FACISA exibiu durante mais uma edição do projeto “Cinema é Educação” o filme Arquitetura da Destruição, produzida na Suécia e dirigido por Peter Cohen. O documentário é um referencial para entender os pressupostos históricos do cérebro do nazismo Adolf Hitler, enquanto arquiteto da destruição, numa época de efervescência dos regimes totalitários durante a “era das catástrofes” como lembrou o historiador inglês Hobsbawm.

Imaginei ao ver o filme, por duas vezes, sexta-feira (em casa, anotando cada frase ou imagem chave) e no sábado (no cinema da Facisa, no momento que participei da mesa redonda), como entender alguns elementos intrigantes do enredo a partir da perspectiva da estética filosófica. Primeiro considerando a leitura da estética como sendo (do grego αισθητική ou aisthésis: percepção, sensação) o ramo da filosofia que tem por objeto o estudo da natureza do belo e dos fundamentos da arte, lembrando a beleza socrática como representação da virtude interior e intrínseca ao homem de bondade, principalmente quando associou o belo a idéia de justiça. Sem esquecer-se do posicionamento de filósofos modernos como Hume, que no séc. XVI acreditava que a beleza é algo subjetivo e externo, próprio das escolhas e das percepções (inter) subjetivas. Imaginei na ótica de Hume um padrão de mulher bonita para exemplificar a condição da estética! Como o belo deve ser um valor subjetivo, não há que pensar um padrão de beleza, caso contrário, a beleza se torna fútil e banal. Melhor pensar em beleza como construção das subjetividades humanas, num mundo com características de belezas femininas muito distintas e diferentes. Por que pensar, por exemplo, na arte nazista como o padrão de beleza? Só na cabeça de um louco para acreditar nisso. Como entendeu Kant, as faculdades que proporcionam a sensação de beleza, são a razão e a sensibilidade, logo será a racionalidade quando utiliza da experiência do sensível que determina a questão do belo como algo subjetivo, e por ser subjetivo é livremente atribuído, sem parâmetro, fundado na “norma pessoal”. São os sentimentos oriundos das sensações agradáveis que emitem o juízo do belo, induzindo o desejo de permanecer usufruindo de tais sensações. O interesse imediato diante das sensações prazerosas é a continuidade.
Ao ser retratado Hitler no documentário como leitor assíduo de Richard Wagner (autor de "A arte e a revolução" - 1849), e encantado por suas peças e por sua arte, não se imagina que deste legou também, uma leitura de mundo extremamente anti-semita e amoral. Segundo o Fürer: “Só entende o nazismo quem conhece Wagner” – “A fantasia das peças teatrais de Wagner, a ilusão, a realidade, alçar vôo”. Para Hitler, “Wagner é o artista criativo e político em uma só pessoa; anti-semita; culto ao legado nórdico, e, mito de sangue puro”. Cujo objetivo: “Vida e nova arte para um novo Estado”. Ao determinar uma sociedade alemã nos moldes darwinistas o nazismo do Terceiro Reich propõe um processo de higienização que parece ser a única válvula de escape da população que comunga do sentimento de revanchismo diante da derrota da 1ª Guerra Mundial, associar os judeus aos animais peçonhentos (baratas, ratos etc.) é a metáfora da desumanização e do estereótipo da estética nazista. A estética é produto da liberdade humana e das escolhas subjetivas dos indivíduos, remete ao encontro com o próprio desejo de felicidade estampado no semblante de cada individuo que experimentou dentro e fora das cenas do documentário Arquitetura da Destruição o desejo pelo belo.



Programa Diversidade (Tv Itararé) com matéria sobre o documentário "Arquitetura da Destruição"

domingo, 28 de março de 2010




Sobre Immanuel Kant (1724-1804) filósofo alemão, trazemos esses quadrinhos para ilustrar a inaugural busca pelo conhecimento a partir da razão e da sensibilidade, para ele, a menoridade é responsável pela falta de entendimento do homem, logo este deve lutar contra a covardia e a preguiça para encontrar o conhecimento.
Em Kant, Moral e Direito são as categorias essenciais para si viver em liberdade a partir do Imperativo categórico. Penso que Kant é um dos referenciais para entendermos os valores morais e a construção dos anseios humanos diante do outro na modernidade.



TRADUÇÃO: Strizz: Sensacional! –

Chefe: Senhor Strizz, por favor, examine esse orçamento. A coisa é urgente.
– Strizz: Kant, chefe!
– Strizz: Eu viverei de outra maneira. Descobri que sou culpado de minha própria menoridade!
– Strizz: Sabe o que é menoridade? A incapacidade, de seu próprio entendimento orientar-se sem a instrução de outro. Por exemplo, seu chefe. Sabe o que é ser culpado? Quando não falta entendimento, mas coragem, para trabalhar sem a direção do chefe.
– Strizz: O meu entendimento me diz: devagar se vai ao longe! Comece o dia calmamente! Evite stress! A minha coragem me diz: diga ao chefe!

Strizz: Esse Kant! Gente fina! Eu vou sempre andar com ele!Chefe: Hum... faz tempo que eu li Kant...
–Chefe: Pelo que eu me lembro, ele não pregava a preguiça de jeito nenhum. Não eram os conceitos de dever e de atenção à lei moral os conceitos essenciais da Fundamentação da Metafísica dos Costumes? –Strizz: Ohhh... Não cheguei a ver isso... –Chefe: Espere um pouco... talvez isso esteja por aqui...


Chefe: Aqui! "Dever é a necessidade de ação por atenção à lei!" Não seria em seu caso a atenção ao contrato de trabalho? Assunto encerrado! Me entregue o orçamento em minha mesa em uma hora! –Strizz: Chefe! Então a gente não pode filosofar! Que citação foi encontrada! Eu também consigo! Aqui! Sua única garantia de felicidade é o dever. O que isso significa?
–Chefe: Eu não tenho nada contra que tu estudes Kant! Mas em casa! Se você me provar que é para isso, se depois do almoço você não tiver nada para fazer, tire uma semana de folga!

domingo, 14 de março de 2010

Entre o dia e a noite ...



Um pequeno poema dos meus arquivos do "The book of life and other stories":

De dois vértices que se encontram numa estrada,
disputando os sentidos no tempo, os arranjos do escuro mundo da solidão se conflitam, para inebriar as noites de sombras intransponiveis com a doçura das belas folhagens, que cantam ao sabor da ventania.
E eu, esperando que os dias me socorra, alimento-me dos goles do desejo, saboreando os passos tristes da noite.
Das escolhas que se deve fazer, uma delas é inquietar o coração, e cuspindo por vezes na razão, livrar-se do livre arbítrio da vida para escolher entre a estrada da noite ou se deve ficar com o dia.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Uma semana entre o gênero e o direito



Uma das grandes questões que perpassam a história das relações de conflito social na contemporaneidade é a luta emancipatória das mulheres pela garantia dos seus direitos, já ficou registrado desde os tempos neolíticos, época do matriarcado, que o gênero feminino tem seu potencial, o problema já dizia Engels na sua "Origem da Propriedade Privada, da Família e do Estado" que as relações patriarcais, privatistas e excludentes separaram aqueles que a natureza os fez iguais. Das lutas revolucionárias, dos processos de repressão e de violência doméstica ali estavam as mulheres sonhando e conquistando seus espaços, até a lei manifestou os arranjos para simetria desses espaços, graças, por exemplo, às lutas como de Maria da Penha, surgiram "tutelarias" como a Lei n. 11.340/06. Nesta semana quando vi (segunda-feira) o dia internacional da mulher ser comemorado folcloricamente não tive a dimensão de conquista nenhuma, mas ao terminar (sexta-feira), a "semana da mulher" (como se as mulheres só merecessem homenagens nesta semana), acabei percebendo o quanto as lutas, as teorias, as leis e os sonhos do gênero feminino valem muito ser vividos. Ao ver nesta sexta o resultado da minha irmã diante de suas lutas, suas dificuldades e diante de tanta provação, ter logrado a aprovação no mestrado em direito (UFPB) na área de direitos humanos, com um estudo sobre gênero e direito, vejo que mesmo com dificuldades, as mulheres são fortes, lutam, e nós homens achamos que temos tudo, falaciosamente acreditando que somos senhores e dominadores das mulheres de hoje!

sábado, 6 de março de 2010

Dialética – O método da imprevisibilidade





Comumente estamos preocupados com o tempo, principalmente nas atividades diuturnas no que diz respeito à vida familiar, laborial, lazer, descanso e até na vida afetiva. Porém, a humanidade nos últimos séculos, pouco sentido deu a importância que a temporalidade apresenta para as transformações nas convenções sociais, nas sociedades e nas mentalidades. Preocupamo-nos em saber quantos anos levam para nossa vida ter progresso financeiro, se nossos filhos serão, um dia, realmente aquilo que nós desejamos que fossem, se teremos uma velhice tranqüila, se viveremos até vermos nosso país sem injustiças sociais e econômicas, como estará a Seleção Brasileira até chegar a próxima Copa do Mundo? Com efeito, todos os nossos questionamentos não passam de mera efemeridade e virtude imaginária, pois, na maioria das ocasiões, o que nos preocupa é a transitoriedade do tempo corrido, do imaginário produzido pelos efeitos que o tempo pode ter, por exemplo, nossos traços físicos quando somos criança são sensivelmente transpostos para uma dimensão castigada pelo tempo, quando nos tornamos adultos. Uma estreita oposição temporal que começa a partir da dialética presente na fisis (natureza), mas que tem sua concretude nas relações humanas. Os antigos gregos já valorizavam a idéia de oposições e contradições presentes na assimilação do conhecimento tiveram o diálogo (dialégomoi; dialetiké – arte de dialogar), como elemento nascedouro das oposições que agem na temporalidade. A origem e a transformação de tudo o que existe já eram questões discutidas pelos primeiros filósofos, na Grécia Antiga. Heráclito de Éfeso, um desses primeiros filósofos, dizia que tudo o que percebemos como imutável é uma ilusão, pois a vida é uma constante transformação. Tudo muda o tempo inteiro. Não existe nada estático. Assim sendo, o que predomina no processo de construção da temporalidade e da espacialidade, na verdade, é a mobilidade, ou seja, a mutação. Sócrates em pleno séc. V a.C. teria pensando essa natureza dialética associada à condição racional do homem, quando imagina que no diálogo (perguntas e repostas) está a mutabilidade antropológica na natureza humana, a partir da racionalidade, ou seja, pelo método da dialética se pode chegar às verdades e virtudes humanas. Sem muitas delongas, imaginemos como exemplo, que parece ter sido retirado de um diário de adolescentes, a descrição das angustias vividas por um casal de namorados quando bate a saudade, quem nunca sentiu saudades de sua namorada ou de seu namorado que se encontra distante? Os homens até inventaram telefones e correios (e-mail) para encurtar as distâncias, mas nem sempre isso funciona, todo mundo sabe. Na verdade, a saudade pode ser minimizada pelo sentido ocupacional que é dado na temporalidade, pois se na lógica da dialeticidade criada pelos gregos, a namorada dá sentido aos seus dias, a impressão do tempo andando depressa é uma constante, conseqüentemente a saudade será relativa perante os próximos dias. Heráclito e Sócrates, na verdade, criaram o princípio da mutabilidade como forma de entendermos que toda relação natural ou social se dá como processo para uma transformação vindoura, na medida em que a vida e a morte, o despertar e o dormir, a juventude e a velhice, o bem e o mal fazem parte da mesma natureza. A vida se constitui num processo de contrários. (Marcelo Eµfrasıø. Trechos do livro: História do Direito e da Violência)