sábado, 6 de março de 2010

Dialética – O método da imprevisibilidade





Comumente estamos preocupados com o tempo, principalmente nas atividades diuturnas no que diz respeito à vida familiar, laborial, lazer, descanso e até na vida afetiva. Porém, a humanidade nos últimos séculos, pouco sentido deu a importância que a temporalidade apresenta para as transformações nas convenções sociais, nas sociedades e nas mentalidades. Preocupamo-nos em saber quantos anos levam para nossa vida ter progresso financeiro, se nossos filhos serão, um dia, realmente aquilo que nós desejamos que fossem, se teremos uma velhice tranqüila, se viveremos até vermos nosso país sem injustiças sociais e econômicas, como estará a Seleção Brasileira até chegar a próxima Copa do Mundo? Com efeito, todos os nossos questionamentos não passam de mera efemeridade e virtude imaginária, pois, na maioria das ocasiões, o que nos preocupa é a transitoriedade do tempo corrido, do imaginário produzido pelos efeitos que o tempo pode ter, por exemplo, nossos traços físicos quando somos criança são sensivelmente transpostos para uma dimensão castigada pelo tempo, quando nos tornamos adultos. Uma estreita oposição temporal que começa a partir da dialética presente na fisis (natureza), mas que tem sua concretude nas relações humanas. Os antigos gregos já valorizavam a idéia de oposições e contradições presentes na assimilação do conhecimento tiveram o diálogo (dialégomoi; dialetiké – arte de dialogar), como elemento nascedouro das oposições que agem na temporalidade. A origem e a transformação de tudo o que existe já eram questões discutidas pelos primeiros filósofos, na Grécia Antiga. Heráclito de Éfeso, um desses primeiros filósofos, dizia que tudo o que percebemos como imutável é uma ilusão, pois a vida é uma constante transformação. Tudo muda o tempo inteiro. Não existe nada estático. Assim sendo, o que predomina no processo de construção da temporalidade e da espacialidade, na verdade, é a mobilidade, ou seja, a mutação. Sócrates em pleno séc. V a.C. teria pensando essa natureza dialética associada à condição racional do homem, quando imagina que no diálogo (perguntas e repostas) está a mutabilidade antropológica na natureza humana, a partir da racionalidade, ou seja, pelo método da dialética se pode chegar às verdades e virtudes humanas. Sem muitas delongas, imaginemos como exemplo, que parece ter sido retirado de um diário de adolescentes, a descrição das angustias vividas por um casal de namorados quando bate a saudade, quem nunca sentiu saudades de sua namorada ou de seu namorado que se encontra distante? Os homens até inventaram telefones e correios (e-mail) para encurtar as distâncias, mas nem sempre isso funciona, todo mundo sabe. Na verdade, a saudade pode ser minimizada pelo sentido ocupacional que é dado na temporalidade, pois se na lógica da dialeticidade criada pelos gregos, a namorada dá sentido aos seus dias, a impressão do tempo andando depressa é uma constante, conseqüentemente a saudade será relativa perante os próximos dias. Heráclito e Sócrates, na verdade, criaram o princípio da mutabilidade como forma de entendermos que toda relação natural ou social se dá como processo para uma transformação vindoura, na medida em que a vida e a morte, o despertar e o dormir, a juventude e a velhice, o bem e o mal fazem parte da mesma natureza. A vida se constitui num processo de contrários. (Marcelo Eµfrasıø. Trechos do livro: História do Direito e da Violência)

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