DIA DO TRABALHO OU DIA DO ÓCIO?
Ironicamente os temas que venho
me debruçando nestes últimos anos sempre tem girado em torno da violência e do
trabalho. Será que dialeticamente ao ponto que eles estão distantes ao mesmo
tempo se aproximam? Ou de que estou lutando por uma perspectiva de garantia do “direito
ao trabalho” quando na verdade deveria estar lutando pelo “direito ao ócio”?
Muitas inquietações, muitas
perguntas, poucas respostas, preciso de “ócio” para pensar e pouco trabalho
para me ocupar.
Mais um feriado, somado ao final
de semana e assembléia. Que venham mais, defenderia Paul Lafargue, genro de
Karl Marx, autor de um manifesto intitulado Direito à Preguiça em que estranhava
o fato dos operários da época (séc. XIX) serem tão tolos a ponto de lutarem
pelo direito ao trabalho, em vez de lutarem diretamente, sem subterfúgios, pelo
direito aos privilégios de lazer dos patrões.
Até a nomenclatura convencionalmente
admitida nos calendários para este dia 01 de maio é forçosa e instigante para o
labor, quando deveria ser Dia do
Descanso e não do “Trabalho”.
Ao tempo em que nos encontramos imersos
numa época “pós-moderna”, perpassados pela lógica da rotina do trabalho e do
consumo, perdemos o sentido de um dos bens mais preciosos do homem, o tempo. Os
antigos gregos quando instituíram o ócio não foi como sinônimo de vagabundagem,
como se pensa hoje, mas exercício do pensar. A palavra ócio em grego psykhagogía significa a condução da alma.
Porque o ócio é o momento em que o individuo pára para refletir sobre sua alma.
Educar-se. Aliás, educação é formação. Os antigos viam na criança, por exemplo,
um animal selvagem que precisava ser educado, formar homens íntegros capazes de
olhar de frente para os deuses, ou seja, colocar as crianças a serviço da Criação.
A educação atual se volta exclusivamente para formar indivíduos competitivos
para o sucesso profissional.
Na modernidade o valor do
trabalho valorizado pelos antigos se perdeu, destinado a subsistência e ao
trabalho criador, para eles, o trabalho deveria ser apenas aquele destinado a
suprir suas necessidades, o restante do tempo destinado ao culto do trabalho
criador. Assim, não há ócio se ele não for criador, já idealizou o cientista do trabalho italiano Domenico
De Masi.
O filósofo e terapeuta Viktor Salis afirmou “O homem moderno
não sabe mais “ociar”. Se deixarmos sem ter o que fazer, ele se distrai com
algo que o anestesie, ou fica numa angustia enorme”.
Nasce uma questão, o que fazer com o nosso feriado, ser
escravo da conjuntura, que sugere (impõe) um tipo de lazer (fast food, internet 24 horas, tevê
aberta, pagode domingueiro etc.) ou se cria “criativamente o ócio”?
“To be or not to
be, that's the question”!