sábado, 7 de junho de 2014

A Sabedoria de São Francisco de Assis - diácono dos pobres




Minhas modestas impressões sobre a sabedoria teológica e antropológica de São Francisco de Assis.


A sabedoria de São Francisco de Assis (1182-1226), diácono da Igreja, que viveu em tempos medievais é sacramentalmente representada pela dimensão do serviço. Vivencia o serviço a partir de sua entrega pelo amor e caridade aos pobres. Enquanto modelo de servidor (diaconia, do grego διάκονος "ministro" ou "servo"), manifesta sua missão mediante um grande desafio, a edificação da comunidade por meio dos pobres, no testemunho de doação e partilha pelos pobres, por meio da caridade. Além do constante exercício da dimensão espiritual, através do culto e da reflexão evangélica, no seguimento do Cristo e na atividade edificante de testemunhar o amor de Deus.

Sua vocação se confirma ao escutar e atender o clamor do Altíssimo: "Francisco, vai e repara a minha casa que, como vês, está em ruínas". Doravante sua missão evangelizadora de humanizar a comunidade eclesial e o mundo feudal,  Francisco enquanto diácono, exerce seu ministério do serviço não com a prática da comunidade (franciscana) em direção aos pobres, mas uma práxis a partir dos pobres, com a vivência e amor com os pobres, com o objetivo de transformar a comunidade e a sociedade tomando como modelo o projeto do Reino de Deus. Anuncia Tiago em sua Carta Apostólica: "Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do Reino que Ele prometeu aos que o amam?" (Tg 2:5).

O jovem de Assis rememora pelo seu testemunho o amor do Cristo servidor, em um contexto histórico marcado por atribulações e pelas intempéries de um período hostil e banalizado pela usura religiosa e política, quando o espírito franciscano ecoá com o chamado cristocêntrico para o exercício da metáfora do serviço,  simbolizado pelo ato de lavar os pés dos discípulos: "Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também" (Jo 13:15).

Sua missão enaltece a chama dos homens de bom coração, aqueles que perante o mundo são fracos e marginalizados, mas podem colaborar como servos no projeto salvífico de Deus, porque a dimensão franciscana revive também a missão da comunidade cristã, com aquelas pessoas que se inspiram na ética do cuidado e se entregam ao serviço dos pobres. Afinal,  também estes vivem Pentecostes: “até sobre os meus servos (doulous) e minhas servas (doulas) derramarei do meu Espírito naquelas dias, e profetizarão” (At 2.18). 

Numa dimensão antropológica, São Francisco de Assis encarna o exercício da razão (logos), que se instaura "absolutamente" e da paixão (pathos) que comove e coloca os homens de joelhos, pressupõe iconicamente que o homem subverte a alma e se inspira nos bons exemplos de uma vida dedicada às pequenas coisas do mundo, porém reaprendendo o sentido da própria vida nos anos que ainda lhe resta. Sabendo que razão e emoção devem andar juntas em cada instante da efemeridade. 

E das pequenas às grandes coisas que experimenta em cada instante da vida, seu jeito servidor e contemplativo inspira o gênero humano a aprender com os sinais transcendentes neste mundo, desde a mera contemplação de uma aranha que desce no produto de seu longo trabalho, ao esplendoroso encantamento do Sol que abraça o dia repleto de vidas.


Por Marcelo Eufrásio.


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