quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Encontrei Habermas no supermercado!






















Outro dia, fazendo compras com minha companheira num dos supermercados da cidade, comecei a procurar coisas interessantes para fazer enquanto as pernas, a grana e o carrinho se empanturravam de peso e do consumismo do mês, horas que nos testam no bolso e na paciência, passados alguns instantes, eis que de repente naquele labirinto “eterno” de prateleiras e seções encontro um sujeitinho franzino e alto, vestido em trajes aos moldes germânicos em pleno clima serrano campinense. Até fingi não perceber de início, mas se buscava ricota lá estava ele, se corria atrás das frutas o homemzinho se fazia presente, como uma tentação! Depois de muita recusa e insistência, vi que ele era a figura icônica de um verdadeiro sósia de JÜRGEN HABERMAS, depois disso, comecei a persegui-lo seção por seção com uma tietagem frenética, aparecia coragem e ao mesmo tempo timidez, queria de todas as formas registrar uma foto (mesmo que de celular) com aquele que seria um dos grandes ícones da filosofia política e da teoria social do século XX. Imaginei de início que tirar uma foto com ele seria como ir até Frankfurt ou presenciar o embate histórico entre ciência e fé, quando do grande encontro entre Habermas e seu conterrâneo, o Cardeal Joseph Ratzinger (atual Papa Bento XVI) num debate filosófico na década de 1990.

Nestes tempos dos preparativos para o processo eleitoral onde candidatos a deputados e senadores e até presidenciáveis se rasgam, se acusam e se conspiram movendo mundos e fundos, até mais fundos do que mundos, acabei recuperando um pouco das lembranças da teoria social desenvolvida a partir do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt (1924), também conhecido como Escola de Frankfurt, que se constitui como sendo uma estrutura acadêmica de pensamento filosófico-sociológica organizada sob uma matriz de conhecimento voltada às questões atinentes a modernidade, principalmente dentro do contexto do mundo capitalista que insurge no séc. XX no período entre guerras e no cenário burguês industrial.

Neste caso, Habermas, que jurei ter encontro num supermercado em Campina Grande, é um destes filósofos fundamentais ainda vivos que ajudam a entender o espaço público e a participação política dos indivíduos, principalmente no processo eleitoral de uma sociedade revestida pelo Estado Democrático de Direito. Para tanto, segue abaixo dois trechos de duas de suas importantes obras “Conhecimento e interesse - Escola de Frankurf (1975)” e "Para a reconstrução do materialismo histórico (1983)" para registramos a grande importância que temos enquanto sujeitos políticos que lutam dialeticamente pelo agir comunicativo como recurso para desenvolver as ações intersubjetivas presentes no diálogo e no espaço público, principalmente enquanto espaço de reconhecimento do direito e da moral:

"É lógico que o processo de comunicação só pode realizar-se numa sociedade emancipada, que propicie as condições para que seus membros atinjam a maturidade, criando possibilidades para a existência de um modelo de identidade do Ego formado na reciprocidade e na idéia de um verdadeiro consenso" (HABERMAS, 1975, p. 300).

"(...) moral e direito definem o núcleo da interação. Revela-se aqui, por conseguinte, a identidade das estruturas de consciência, encarnadas, por um lado, nas instituições do direito e da moral e, por outro, expressas nos juizos morais e nas ações dos indivíduos" (HABERMAS, 1983, p. 15).



Coisas imprescindíveis para pensar acerca do destino dos homens durante o pré e pós processos eleitorais, mesmo que tenham nascido entre os labirintos das seções de um supermercado!

(Trechos das tessituras da modernidade que ando escrevendo...)

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